sábado, 22 de dezembro de 2012

Concurso Nacional de Literatura

Se você tem um rascunho guardado na gaveta, ou precisa de um incentivo para começar ou finalmente terminar seu livro, surge agora uma grande oportunidade: O Concurso Nacional de Literatura Cidade de Belo Horizonte. Desta vez, o concurso abrange as quatro principais esferas da literatura: Conto, Dramaturgia, Poesia e Romance. E o prêmio para o vencedor de cada categoria é de 50 mil reais! Além é claro, de toda a divulgação e reconhecimento. É uma ótima oportunidade para os escritores iniciantes de todo o Brasil. O regulamento pode ser obtido aqui.

É excelente que a prefeitura de Belo Horizonte dá esse incentivo aos escritores. Não é fácil terminar (ou mesmo começar) um livro, em meio a tantas obrigações que temos que cumprir em nossa vida. E a dificuldade de entrar no mercado, conseguir leitores, etc, desanima de investir tempo em uma obra. É claro que para muitas pessoas basta a paixão de escrever para que se escreva, mas é fácil adiar eternamente um projeto em meio a outras obrigações mais urgentes. Um concurso de literatura nos dá um prazo, um objetivo concreto, o que facilita terminar pelo menos uma versão completa do livro. Correr demais para escrever pode prejudicar a qualidade de uma obra, mas nada impede que o livro seja retrabalhado e melhorado após o prazo do concurso.

Independente de ser o vencedor ou não, acho que todos ganham em participar. Se você tem paixão em escrever, não perca esta oportunidade. Eu mesmo vou submeter o rascunho do meu segundo livro, que devo lançar ano que vem.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Clarice Lispector e a Paixão pela Literatura

Clarice Lispector é, definitivamente, uma das escritoras que mais admiro, e uma grande fonte de inspiração para meu trabalho. Recentemente, descobri no Youtube vários contos da autora, narrados por Aracy Balabanian. A atriz consegue transmitir muito bem toda a emoção do texto, alterando o tom de sua voz e a velocidade da leitura de acordo com as necessidades de cada trecho. Neste artigo, vou comentar um dos contos, chamado "Felicidade Clandestina". Recomendo assistir a leitura da atriz, cujo vídeo coloco abaixo. Mas o texto também pode ser encontrado aqui.

O conto narra a história de uma menina que sofre pela sua ânsia de ler "As reinações de Narizinho", de Monteiro Lobato. Torturada por uma invejosa e cruel amiga, que promete lhe emprestar o livro, a menina passa dias e mais dias indo até sua casa, mas jamais recebe o livro prometido. É interessante que a personagem percebe que está sendo torturada, mas ainda assim se submete, tamanho é o seu desejo de ler o livro. Quando finalmente consegue tomar posse, sua paixão e seu desejo são tão intensos que ela nem mesmo consegue lê-lo.

Mesmo após ter o livro disponível para leitura, a personagem ainda procura a dor de não o ter, apenas para sentir novamente a felicidade de conquistá-lo. Isso pode ser visto nos trechos "Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter" ou "(...) fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o (...)". Como são complexos os sentimentos humanos!.. E ninguém melhor do que a Clarice para retratá-los.

Mas é a frase final que causa grande surpresa: "Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante." Subitamente, a paixão pelo livro se transforma no sentimento que uma mulher dedicaria ao seu amante. A experiência traumática da tortura, e o êxtase da posse que transcende a sua dor levam a menina a um crescimento prematuro, forçado. Ironicamente, provocado por um livro infantil. A menina passa por uma transformação interna que a leva a descobrir seus sentimentos com uma nova intensidade.

Quantas pessoas hoje compartilhariam esse amor pela literatura? Quantas pessoas hoje ainda podem sentir tanto êxtase ao tomar posse de um livro? Ou seria esse sentimento reservado à inocência de uma menina em transformação?.. Difícil responder a essas perguntas, mas espero que esse sentimento possa ser redescoberto e que muitos leitores ao abrir um livro possam sentir novamente a alegria e o amor de uma criança.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Microcontos

Este ano iniciei um novo projeto literário no twitter, publicando microcontos de até 140 letras. Mas como nem todo mundo acompanha o twitter, organizei os textos em meu site, e nesta postagem. Caso queira ter acesso aos textos mais recentes, siga minha página do twitter. Você pode copiar os microcontos, se quiser, desde que me dê créditos. Aproveite! Divulgue para seus amigos!..

2 Dezembro 2012
Escreveu um livro de nuvens. Mas jamais conseguiu publicar, pois faltava-lhe estrelas. (LSM)

29 Novembro 2012
Fiz tantos esperimentos, que já não sei mais quem sou. (LSM) (versão mais radical)

29 Novembro 2012
Fiz tantos experimentos, que já não sei mais quem sou. (LSM)

24 Novembro 2012
- Você tem água?
- Não, graças a Deus!.. (LSM)

7 Novembro 2012
Quem é aquele homem, por trás dessa máscara sem rosto? (LSM)

27 Outubro 2012
Quando deu por si, já tinha mudado. (LSM)

14 Outubro 2012
Saiu da caverna, apenas para perceber que entrara em outra caverna. (LSM)

5 Setembro 2012
Sangrava, sozinho na escuridão. Doía-lhe não a morte, mas a dor do nascimento. (LSM)

2 Setembro 2012
Exausto, após tentar sem sucesso capturar o sentido da existência, deitou-se sob uma noite sem estrelas e admirou a beleza do nada. (LSM)

1 Setembro 2012
Gritava por ar, parado na perpétua prisão prata de paredes de porcelana. (LSM)

8 Julho 2012
Viajou tanto, mas tanto, mas tanto, que apesar de ainda lembrar-se de onde estava, e de quando estava, já não sabia mais quem era. (LSM)

7 Julho 2012
Acordou bocejou comeu escovou os dentes penteou os cabelos fez a barba urinou voltou ao quarto sentou na cama e deu um tiro no rosto. (LSM)

4 Maio 2012
Ele suava. Corria, corria, corria e corria, desesperado. Mas era inútil. Jamais conseguiria chegar antes de acabar este tweet. (LSM)

25 Abril 2012
Após aceitar uma excelente oferta de trabalho no Alasca:
- Amor, lembra aquele dia que você disse que eu sou muito frio?.. Pois é... (LSM)

21 Abril 2012
< 9 2 ¬ ⊇ δ φ ∑ 4 a ∂ ÷ ℤ ! ø ≈ ⊥ ∨ ∈ √ = ∪ ∫ Ω ∇ × ∀ d ⇒ ³ ∞ oʇuıɹıqɐl ∞ μ ∏ ⌉ i + | ψ ≤ ∮ Θ ∧ ℝ ∉ x β λ } σ η ⊆ ℕ τ 3 7 ⌋ y ° ζ ~ > (LSM)

19 Abril 2012
Cambaleante, ele entrou para dentro de si mesmo, e se afogou no mar quente e vermelho de suas memórias. (LSM)

16 Abril 2012
- Olá, meu amor!.. - Disse o homem solitário, quando chegou em casa. (LSM)

13 Abril 2012
(ɯsl) ¿oɥlǝdsǝ op opɐl oɹʇno op 'ıɐ ɐʇsǝ ɯǝnb

12 Abril 2012
Todos estavam sérios no funeral do último escritor. Apenas o último pintor chorava. (LSM)

11 Abril 2012
- Quanto custa?
- Sua alma. (LSM)

10 Abril 2012
渡し渡し渡し渡し渡し渡し渡し渡し渡し渡し渡し渡し渡し渡しe渡し渡し渡し渡し渡し渡し渡し渡し渡し渡し渡し渡し渡し渡し渡し渡し渡し渡し渡し渡し渡し渡し渡し渡し渡しu渡し渡し渡し渡し渡し渡し渡し渡し渡し渡し渡し渡し渡し?渡し渡し渡し渡し渡し渡し渡し渡し渡し渡し渡し渡し渡し (LSM)

9 Abril 2012
愛恋愛恋愛恋愛恋愛恋愛恋愛恋愛恋愛a愛恋愛恋愛恋愛恋愛恋愛恋愛d愛恋愛恋愛恋愛恋愛o愛恋愛恋愛恋愛恋愛恋愛恋r恋愛恋愛恋愛恋愛恋愛恋愛恋愛恋m恋愛恋愛恋愛恋愛恋愛恋愛e愛恋愛恋愛恋愛恋愛恋愛恋ç恋愛恋愛恋愛恋愛恋愛恋愛恋愛恋愛恋愛o愛恋愛恋愛恋愛恋愛恋愛恋愛恋愛恋愛恋 (LSM)

8 Abril 2012
- Quem está aí? - Perguntou, na escuridão.
- Apenas você - responderam. (LSM)

6 Abril 2012
- Olá! Tudo bem?
- Não - ele respondeu, e pulou. (LSM)

4 Abril 2012
- Nasceu!
- Menino ou menina?
- Androide. (LSM)

27 Março 2012
Isto não é uma mensagem. (LSM)

21 Março 2012
- Você tem horas? - Perguntou o homem para a Morte. (LSM)

19 Março 2012
- Como você se chama?
- Eu me chamo Desejo.
- E por que você se chama assim?
- Porque é assim que você me chama. (LSM)

domingo, 9 de dezembro de 2012

O Poder da Diversidade

Hoje vou comentar sobre um livro de não-ficção que tem servido como grande inspiração para minha pesquisa: "The Difference", escrito por Scott E. Page. O livro possui um longo subtítulo: "How the Power of Diversity Creates Better Groups, Firms, Schools, and Societies". Aparentemente, ainda não existe uma tradução em Português.

Em uma linguagem interessante e acessível, o livro trata de uma questão fundamental: ao selecionar um grupo, devemos escolher as pessoas de maior habilidade ou de maior diversidade? Segundo Page, ao lidar com um problema complexo, um grupo de pessoas diversas pode encontrar melhores soluções do que um grupo composto somente por pessoas de alta habilidade. Essa proposta vai complemente contra grande parte dos processos de seleção atuais, que procuram escolher os "melhores" indivíduos. Ao se aplicar um teste para contratar, digamos, dez indivíduos, a melhor solução de acordo com Page não é contratar as dez pessoas que obtiveram as maiores notas. Seria melhor escolher aleatoriamente dez pessoas que obtiveram "boas" notas.

Apesar de Page ter artigos científicos cheios de provas e teoremas matemáticos, o livro apresenta suas ideias de uma forma muito acessível. As provas formais ficam escondidas "por baixo do pano" e em seu lugar o autor apresenta vários exemplos e histórias interessantes. Para falar sobre um problema complexo, ele escolhe falar sobre como preparar uma xícara de café perfeita para sua esposa; ao falar sobre modelos de predição ele apresenta críticos prevendo o sucesso de um filme de acordo com a quantidade de erotismo e violência. E como Page começou a ter todas essas ideias? Ao desconfiar de um erro no código de seus programas.

No geral, é uma leitura muito interessante, e Page conseguiu trazer suas ideias e conceitos acadêmicos para o grande público. Resta saber se (e quando) o livro vai conseguir influenciar os arcaicos processos de seleção do governo, das firmas e das universidades...

Quem quiser dar uma olhada no prólogo e no primeiro capítulo, confira em http://press.princeton.edu/titles/8353.html.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Realejo e a Literatura Nacional

Hoje vou comentar sobre o poema Realejo, de Cecília Meireles. Acho que este poema representa bem a situação da literatura nacional. Bem, primeiro segue o poema:

Realejo

Cecília Meireles


Minha vida bela,
minha vida bela,
nada mais adianta
se não há janela
para a voz que canta...

Preparei um verso
com a melhor medida:
rosto do universo,
boca da minha vida.

Ah! mas nada adianta,
olhos de luar,
quando se planta
hera no mar,

nem  quando se inventa
um colar sem fio,
ou se experimenta
abraçar um rio...

Alucinação da cabeça tonta!

Tudo se desmonta
em cores e vento
e velocidade.
Tudo: coração,
olhos de luar,
noites de saudade.

Aprendi comigo.
Por isso, te digo,
minha vida bela,
nada mais adianta,
se não há janela
para a voz que canta...

Uma possível interpretação é entender "a voz que canta" como sendo a voz do poeta/escritor. A janela seria o receptor dessa voz, ou seja, o leitor. É interessante o uso de "janela" e não de "ouvido", o que amplia as interpretações possíveis para o poema. Além de rimar com "bela"... hehe.

Na segunda estrofe a interpretação é ainda mais direta: o escritor prepara um verso muito bem feito ("com a melhor medida"), baseado nas suas próprias experiências e sentimentos ("boca da minha vida"), mas que também toca problemas universais ("rosto do universo").

Mas pouco adianta todo o seu esforço ("mas nada adianta"), e segue então no poema várias imagens que demonstram quão difícil é conseguir leitores ("planta hera no mar", "se experimenta abraçar um rio", etc).

Lendo este poema, me pergunto: quantos colegas escritores não compartilham os mesmos sentimentos? Quantos escritores, no Brasil afora, dedicam anos escrevendo seus livros, para depois não encontrar leitores? Em um país onde se lê apenas quatro livros por ano em média (ver matéria em Agência Brasil), e com um mercado dominado por traduções de bestsellers americanos, como pode um escritor brasileiro encontrar quem escute a sua voz?

Para os colegas que leem esta postagem, espero que pelo menos sirva como consolo saber que até mesmo uma grande poeta como Cecília Meireles compartilhou os mesmos sentimentos...