quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Uma nova forma literária


Semana passada assisti a uma palestra muito interessante da Lucasfilm, sobre o significado dos jogos. Durante a apresentação, o palestrante definiu os jogos como uma obra de arte, formada pela interação entre o "game designer" e o jogador.

Na verdade, toda obra de arte é gerada pela interação entre o "produtor" e o "consumidor". Apesar da aparência "estática" de um livro, a cada leitura temos uma nova experiência e a própria interpretação da história é responsabilidade do leitor. Assim, cada vez que um livro é lido, um novo livro é criado.

Mas recentemente, me deparei com uma forma literária que encara essa ideia de uma forma mais radical: a ficção interativa. Uma versão moderna das histórias "Escolha a sua aventura", o livro é literalmente "jogado" pelo leitor, que define as ações do personagem principal através de comandos.

Entre as histórias famosas, destacam-se "Galatea", de Emily Short, baseada na interação entre o leitor/jogador e a estátua de uma mulher, fruto da inteligência artificial. "Anchorhead", de Michael S. Gentry, é uma história gótica inspirada nos textos de H. P. Lovecraft. Entre centenas de outras, que podem ser lidas/jogadas gratuitamente. Vale a pena explorar sites como Interactive Fiction Archive, The People's Republic of Interactive Fiction, etc. Existe até uma competição anual, a Interactive Fiction Competition. Infelizmente eu ainda não vi nenhum título ou tradução em português.

Outra obra interessante é o Façade, que pode ser baixado gratuitamente em www.interactivestory.net. Ele se aproxima mais de uma peça de teatro, já que utiliza animações ao invés de texto. O jogador é um dos personagens e interage com um casal em crise de relacionamento. O drama foi desenvolvido de forma a seguir o "arco aristotélico", o nível de tensão é minuciosamente controlado pelo computador, levando a história interativa a atingir um clímax, seguido por uma queda de tensão na conclusão.

Eu não me aventurei nos textos o suficiente para entender o quão próximos eles estão de "literatura", mas creio que a ficção interativa tem potencial como uma nova forma de expressão artística. Claro que ela nunca vai substituir o texto literário convencional, mas pode ser uma forma alternativa de leitura, uma opção a mais entre as formas literárias que estamos acostumados. Afinal, o computador tem um potencial para a literatura que deve ir além do "ebook". Em uma área cinza entre os jogos digitais e o texto literário, creio que a ficção interativa tem potencial para uma experiência muito mais profunda do que os jogos de video game populares. Vale a pena dar uma olhada.