domingo, 13 de março de 2011

Impressões do Terremoto Japonês

Bem, primeiro gostaria de dizer a todos que estou bem. Estou em Tokyo agora, e não estava em um lugar perigoso no momento do terremoto. Eu só vi o efeito do tsunami na televisão, graças a Deus.

Quando o terremoto aconteceu eu estava indo para a embaixada taiwanesa, para pegar o meu visto (viajo para Taiwan em maio), na estação Meguro. Estava com minha namorada. O terremoto começou quando havíamos acabado de deixar o trem. É difícil descrever aquele momento. Os trens e as placas tremiam muito, e eu segurei em uma pilastra para evitar cair. Porém, como sou inexperiente, não consegui perceber a extensão do fenômeno. Todos os outros terremotos que passei no Japão não tiveram grandes consequências, e na hora eu achei que era apenas mais um deles.

Subimos as escadas, para deixar a plataforma. Notamos que havia um grande número de pessoas na estação. Ao deixar o local, vimos muitas pessoas paradas na rua, todo mundo fazendo ligações de celular. Foi a primeira vez que vi os japoneses assustados após um terremoto. Mas ainda não tínhamos ideia de quão terrível era a situação.

Fomos a um restaurante de tempura para o almoço. Enquanto estávamos comendo, podíamos sentir pequenos tremores, mas quando eles aumentaram, o gerente apareceu e pediu para todo mundo deixar o restaurante. Esperamos do lado de fora, novamente havia muita gente na rua. Quando os tremores pararam, voltamos para terminar a comida.

Caminhamos até a embaixada taiwanesa, ainda sem entender a extensão do problema. Peguei meu passaporte de volta e fomos para a estação. Notamos um grande número de pessoas próximas à estação e um grande número de pessoas do lado de dentro. Só então percebemos que a linha de trem estava parada. Ficamos sem saber como voltar para casa, e logo depois, tentando escutar os anúncios em japonês, ficamos sabendo que todas as linhas da JR não estavam funcionando. Mas ainda não sabíamos a situação das linhas Keio, que também fazem parte do nosso caminho de volta. Eu tinha entendido em um dos anúncios em japonês que as linhas voltariam a funcionar em 3 horas, mas fiquei em dúvida se tinha escutado corretamente ou não.

Na estação haviam duas televisões, e finalmente vimos as imagens do resto do Japão. Ficamos muito assustados, tentei obter notícias de Hakodate (onde moro), mas não consegui. Resolvemos caminhar até a próxima estação. Nosso plano era passar o tempo e proteger do frio em uma loja de livros usados (Book Off), e dormir em um Karaoke, caso as linhas de trem continuassem paradas. Em geral as casas de Karaoke possuem vários quartos individuais, portanto é uma opção bem mais barata do que um hotel. Mas só podíamos pegar um quarto à partir das 23 horas, quando começa o plano noturno.

As filas para taxi e ônibus estavam gigantescas. Nunca vi nada parecido. E tinha milhares de pessoas caminhando pelas ruas, impressionante. Tokyo é sempre um lugar lotado, mas eu nunca vi tanta gente andando pela rua como naquele dia. E o tráfego terrível, as ruas lotadas de carros. Em geral, como o sistema de trem é eficiente, não há muitos engarrafamentos no Japão. Mas naquele dia vi o trânsito todo parado.

Ao chegarmos na loja, próxima a estação Togoshi, vimos que estava fechada. Jantamos em um restaurante de comida chinesa (estava lotado). Sem saber o que fazer, resolvemos caminhar até outra filial da Book Off, próxima a estação Musashikoyama. Na metade do caminho, nos afastamos da avenida principal, e percebemos que havia menos pessoas na rua. Após uma longa caminhada, percebemos que também estava fechada. Só então entendemos que era perigoso ficar na Book Off, e por isso eles fecharam todas as filiais (vai ser inexperiente assim lá longe). Conversamos com uma vendedora de sorvete, e descobrimos onde havia Karaoke por perto. O primeiro lugar que fomos não tinha plano noturno, mas caminhamos mais um pouco e achamos uma filial da Big Echo.

Perguntamos o preço: uns 30 dólares para ficar de 11 horas da noite até às 5 horas da manhã do dia seguinte. Achamos caro (burrice), e resolvemos caminhar até o Karaoke na estação Gotanda. Ao retornar às avenidas principais, voltamos a ver um grande fluxo de pessoas. Chegamos no Karaoke, tudo lotado. Fomos em um outro próximo, tudo lotado. Perguntamos o preço em um hotel, 160 dólares a diária. Resolvemos caminhar de volta até a estação Musashikoyama, morrendo de medo de não ter mais quartos disponíveis. Acho que nunca andei tanto em minha vida!..

Felizmente conseguimos um quarto. A bebida era liberada, incluindo uma máquina de sorvete. Conseguimos descansar, beber bastante (nada alcoólico, claro), e dormir um pouco. Mas eventualmente ainda sentíamos o chão tremer. No Karaoke, fora do quarto, podíamos escutar uma estação de rádio passando notícias sobre o terremoto, pedindo para certas pessoas entrarem em contato dizendo se estavam bem, etc. Normalmente eles tocam música, mas naquele dia colocaram notícias sobre a situação. Algumas vezes podíamos ver as pessoas dos outros quartos e escutar o barulho do interior, quando eles saíam para o banheiro, etc. Alguns não pareciam preocupados, pareciam estar realmente se divertindo. Mas só vi isso ali, no outro Karaoke que tentamos passar à noite todos que vimos pareciam cansados e preocupados.

No manhã seguinte as linhas de trem que precisávamos ainda não estavam funcionando. Porém, conseguimos achar uma forma de voltar de ônibus. Ainda podíamos sentir o chão tremendo enquanto tomávamos café da manhã e enquanto caminhávamos para casa. Ao chegar, o dormitório parecia deserto, ficamos muito assustados. Mas perguntamos para o vigia, e ele falou que estava tudo bem.

Após dormimos (muito), fomos para o supermercado. Todos os itens básicos estavam esgotados, ou tinha apenas uma pequena quantidade. Nas lojas de conveniência a situação também era parecida. Tudo o que pode ser cozinhado acabou rapidamente, o que não necessita de cozinhar só pode ser encontrado em pequena quantidade ou já acabou. Eu não vejo um pão desde que o terremoto aconteceu!..

Mais tarde consegui obter notícias da cidade onde moro (Hakodate). Parece que a cidade não foi tão afetada quanto as outras regiões do Japão, mas uma pessoa morreu. A região mais afetada foi Hakodate Eki Mae, a principal estação de trem, onde ocorreram inundações. Mas a região onde moro, a região da minha faculdade, e a região onde faço aulas de japonês e go parecem estar bem. O cluster onde rodo meus experimentos foi desligado, para colaborar com a redução dos gastos de energia elétrica. Encontrei um vídeo no Youtube mostrando o que aconteceu em minha cidade: http://www.youtube.com/watch?v=bhyEVneH-lk. Não parece ser tão terrível quanto o que aconteceu em Sendai...

Agora estou ficando mais em casa, para evitar problemas. Devido à situação da energia elétrica, o sistema de transporte parece estar caótico. Espero que tudo se normalize logo... Algumas vezes ainda sinto o chão tremendo...

terça-feira, 8 de março de 2011

Novas Resenhas sobre o Livro Vida

Mais resenhas foram publicadas sobre o livro "Vida"! Na verdade, elas foram publicadas em novembro e dezembro do ano passado, mas eu só as descobri em janeiro deste ano e só fui publicar sobre elas agora (fevereiro foi uma correria danada). Enfim, se você quiser saber mais sobre meu romance, pode conferir:

* Mell books
* Marcinhow e os Livros
* Pocket Libro